Visualização do filme “Peregrinação” de João Botelho

peregrinação

No passado dia 15 de novembro, todas as turmas do 1º ano visualizaram o filme “Peregrinação” de João Botelho, no Teatro Municipal de Vila do Conde. “Peregrinação”, impresso pela primeira vez em 1614, é um relato da presença dos portugueses no Oriente e uma crónica de viagens de duas décadas de vivência de Fernão Mendes Pinto.

João Botelho e uma equipa reduzida (produtor, diretor de fotografia e um assistente) estiveram no verão do ano passado “a filmar todos os fundos” em sete cidades chinesas, no Japão, na Malásia e no Vietname. Além dos fundos, a equipa fez “quatro documentários sobre os locais do Fernão Mendes Pinto como estão hoje”.Em Portugal, João Botelho filmou na Quinta da Ribafria, em Sintra, em Vila do Conde, no Arsenal do Alfeite, em Almada, no cais palafítico da Carrasqueira, na Comporta, e noutros locais de Sintra.

Um pensamento em “Visualização do filme “Peregrinação” de João Botelho

  1. É já de domínio público que João Botelho adaptou, sem a devida permissão da autora e da editora Leya, no seu filme Peregrinação, uma parte do romance de Deana Barroqueiro, “O Corsário dos Sete Mares”, com a agravante de referir nos media as inúmeras cenas deste livro, como se fossem da obra de Fernão Mendes Pinto. Botelho admitiu o plágio num e-mail da Ar de Filmes para a editora, porém, continua publicamente a insistir no logro, não dando créditos à autora da obra que lhe serviu de guião. Assim, o filme não pode servir de introdução à obra de Fernão Mendes Pinto, como proclama o cineasta,, porque grande parte das cenas não existem na obra renascentista, mas tão só no meu romance.
    Ao cotejar o filme de João Botelho com a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto e com “O Corsário dos Sete Mares”, verificamos que:
    1. As cenas do filme que não constam do meu livro são as da morte de Pinto e as da mulher e filhos, tal como a cena das “mantas” voadoras”.
    2. As restantes cenas e personagens femininas do filme, exceptuando a rainha da Etiópia, não existem na “Peregrinação” de FMP, são do meu romance, inventadas por mim ou ficcionadas a partir de sugestões do original ou fruto da pesquisa que fiz em documentos portugueses e do Oriente.
    3. Não existe nenhuma violação, por António de Faria, na “Peregrinação”, como Botelho afirma que há, numa das suas entrevistas. A violação está no meu romance, embora praticada por Pinto – refere-se ao cap. 47 da sua obra, o episódio da «noiva roubada», que é levada com os irmãos meninos para ser vendida ou resgatada por dinheiro, como era costume. Como o seu destino ficava em aberto eu parti deste episódio para ficcionar uns supostos amores de Pinto que acaba por a violar, algum tempo depois, no barco. Botelho seguiu o “guião” do meu livro, embora com alterações.
    4. A personagem da amante chinesa, assim como o seu nome Meng e os seus amores, inventei-os a partir da menção feita no livro de Pinto (cap. 116) aos filhos do português Vasco Calvo – «dois meninos e duas moças”. A cena do filme, em que «Meng», com uma bacia de água perfumada com pétalas de flores, a lavar as cicatrizes das chicotadas que Pinto tem nas costas, é um dos episódios do meu romance que considero melhor conseguidos (a sua foto tem sido reproduzida na maioria dos jornais). A única diferença é que João Botelho coloca a cena em Pequim e não na aldeia junto à muralha da China, onde vivem os condenados a trabalhos forçados.
    5. Em Pequim, as cenas da moça que toca, canta e convive com Pinto, ensinando-o a ler mandarim. Nada disto existe na Peregrinação, inventei esta personagem e estas cens, incluindo poemas e canções chinesas, de que fiz a tradução, criando de raiz a personagem filha do «monteo» (o capitão chinês que vai levar Pinto e os companheiros para a Muralha). Na obra de Pinto há apenas uma referência à “mulher do monteo”.
    6. As cenas das prostituas também não existem na Peregrinação, inventei-as para criar episódios cómicos com Pinto e Cristóvão Borralho. A fala da prostituta sobre a influência do Yin e Yang no sexo, a menção ao Mercado dos Cavalos Magros são do meu romance.
    7. Na obra de FMP, nos episódios do Japão, não existe qualquer referência ao suposto casamento de Fernão ou de Zeimoto, nem a Wakasa, que eu encontrei em outras fontes japonesas, depois de grande pesquisa. Ficcionei a história desse casamento, com a ida da personagem ao barco, fazendo dela uma espécie de Madame Butterfly avant la lettre.
    8. No filme, Fernão narra a sua 1ª viagem, ainda adolescente, quando servia em casa de uma senhora e teve de fugir para salvar a vida. Apenas isto. Os amores adúlteros e o assassínio de Dona Joana Aires da Silva e de Manuel Freire, o amante, são do meu romance, cuja fonte foram arquivos sobre um escândalo da época. Botelho leva este episódio para o seu filme, embora fazendo de Pinto um segundo amante, a quem a senhora pede que leve um recado … ao amante Manuel Freire.
    9. O realizador absorveu ainda outras ideias da minha obra expondo-as como suas: numa das entrevistas, refere-se à magia do número nove, que é um leitmotiv do meu romance.
    10. Há ainda outros aspectos, que só podem ser detectados por quem conheça bem os dois livros, como a sequência dos episódios ou juntar as duas viagens a Sumatra num único episódio, como eu fiz.
    11. Assim, também me custa a crer que, tendo eu no meu romance as mesmas cenas explícitas da Peregrinação (com textos originais, no início de cada capítulo), Botelho e a sua equipa, depois de terem copiado as inexistentes, tenham tido o trabalho de procurar as das lutas e afins, na imensidade de cenas confusas da obra de Pinto, quando as tinham no meu livro já prontas, com diálogos e tudo.

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